Mas os alunos não vão começar a escrever com a outra letra? É uma pergunta que costumo ouvir sempre. As pessoas se incomodam pelo fato de meus alunos utilizarem letra script maiúscula, letra bastão, de imprensa, enfim, essa letra que não é a tão sonhada letra “de mãos dadas”.
Conforme afirma cagliari (1999, p. 31): “O processo de alfabetização pode ser diferente do método das cartilhas, procurando equilibrar o processo de ensino com o de aprendizagem, apostando na capacidade de todos os alunos para aprender a ler e escrever no primeiro ano escolar e desejando que essa habilidade se desenvolva nas séries seguintes, até chegar ao amadurecimento esperado pela escola”.
A escola, nos últimos anos, foi bastante surpreendida pelas inovações dos campos da ciência e da tecnologia. Com esses avanços, muitas teorias acerca da aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo, da leitura, da escrita e da alfabetização foram sendo complementadas, discutidas e reconstruídas necessitando trazer consigo reformulações dos métodos educacionais.
Penso o seguinte: será que além de todas as dificuldades que os alunos já enfrentam no processo de alfabetização, eles têm a necessidade de aprender a ler e escrever a letra cursiva, cuja sua utilização nos tempos atuais encontra-se quase que exclusivamente na escola? Pois não a encontramos em nenhum outro lugar no contexto social? Porque a maioria dos professores continuam trabalhando com a letra cursiva, exigindo esta aprendizagem, muitas vezes como critério de aprovação?
Considerada uma questão bastante complicada e duvidosa, muitos professores não sabem que tipo de letra utilizar para alfabetizar de forma mais eficaz:, bastão ou cursiva?
Como o objetivo da escola deve ser o de preparar cidadãos críticos capaz de transformar a realidade para melhor, a proposta de alfabetização deve naturalmente adequar-se às exigências da realidade atual. Realidade esta, em que a letra bastão esta presente em todos os momentos da vida de uma criança: em livros, televisão, revista, jornais, embalagens, rótulos, no teclado do computador. Ficando a escola como um dos únicos espaços sociais em que privilegia a escrita com letra cursiva. Muitos educadores dedicam parte do seu tempo treinando o alfabeto manuscrito com seus alunos, apesar de viverem num mundo onde a letra de forma é dominante. Desta forma, percebe-se uma grande perda de tempo e esforço por parte dos alunos e professores que tentam insistentemente a grafia da letra cursiva. Tempo este que poderia e deveria ser melhor aproveitado, com atividades desafiadoras com objetivos reais para o crescimento de seus alunos.
Percebe-se então, a dificuldade com que se defrontam estas crianças, que recém aprendendo a ler e escrever depara-se com obstáculos criados e na maioria das vezes impostos pela própria escola, que na maioria das vezes obrigam seus alunos a utilizar a letra cursiva, sendo em muitos casos um inibidor de avanços e aprendizagens, podendo trazer conseqüências bastante sérias e graves, como, por exemplo, o fracasso escolar.
Segundo ferreiro, (apud nova escola, 1996, p. 11) começar a alfabetização com letra bastão é uma tentativa de respeitar a seqüência do desenvolvimento visual e motor da criança.
No entanto, em vez dos professores despenderem a energia de seus alunos no aprendizado da letra cursiva, poderia utilizá-la para outras atividades mais importantes e necessárias para a vida dos alunos, como por exemplo: leituras, jogos, brincadeiras, músicas, etc. convictas de que as classes de alfabetização são a base para a vida escolar do aluno. Assim, esta deve ser uma etapa encantadora e estimulante para que a criança siga com entusiasmo sua vida escolar com motivação e determinação.
Utilizar a letra bastão não deve ser apenas uma opção para facilitar a vida do professor, que não terá "trabalho " para ensinar a sua caligrafia. O uso da letra bastão está imbuído de uma filosofia que acredito: que devemos começar a ensinar pelo que está mais vivo no mundo da criança e não pelo que nos é cobrado pela sociedade. Temos sempre que pensar no que é melhor para nosso aluno e não para os pais ou coordenador pedagógico. Para isso o professor deve estudar e cercar-se de respostas, pois sem dúvida alguém irá questioná-lo quanto ao uso da letra bastão.
Ressalto também que a forma da letra de cada um é determinada muitas vezes pela genética, os filhos tendem a ter os mesmos traços que os pais ou avós, logo, nada adiantará páginas e páginas de caligrafia se a criança tiver melhor aptidão para escrever com letra bastão. Isto só o tempo dirá.
Devemos sempre pensar em qual é nosso real objetivo: formar leitores ou calígrafos?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: http://www.psicopedagogia.com.br/opiniao/opiniao.asp?entrID=541
ADRIANA, Vera e Silva. Bastão X Cursiva, os prós e os contras de cada letra na alfabetização. São Paulo: Ed. Abril, n. 99, XI, p. 8-16, dez 1996.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização sem o ba, be, bi, bo, bu. Pensamento e ação no magistério. São Paulo: Editora Scipione, 1999.
Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF.1997
Revista Nova escola: Entrevista realizada com Emilia Ferreiro: 1996. p. 11
sábado, 29 de agosto de 2009
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Cara Renata, abraço com carinho e compartilho de sua postura quanto à letra de mão.
ResponderExcluirVejo-a como um dos paradigmas de nossa educação (ainda tão primitiva), e pretendo fazer meu TCC da Faculdade sobre esse assunto. Se puder me indicar livros sobre esse assunto, ficaria grata, visto que o assunto está tão arraigado na sociedade que muitos não o veem como problema e não existe muito o que estudar sobre isso. Obrigada! Cláudia Marques
claudia.mslopes@hotmail.com
A escola ocupa um lugar diferenciado no mundo formal da criança.Justamente pelo fato de conhecerem e terem contato diário com a letra bastão,é que torna-se necessário que ela perceba inúmeras formas de expressão escrita e que não pode simplesmente ser descartada a script ou cursiva.Visto que a criança é capaz de aprender muito mais do que isto,não há qualquer malefício ou esperdício de tempo.Trata-se de mais um aprendizado e habilidade que será inserida no seu cotidiano para melhor decodificação.Lembro que círculos e traçados é o início do grafismo infantil e por isto a criança aparenta facilidade em escrever bastão e não por dificuldade de utilisar a cursiva.Ela o fará naturalmente desde que o professor faça a passagem da script para a cursiva de maneira jocosa.Não haverá qualquer trauma e sim o prazer de identificação e entendimento.
ResponderExcluirGostaria de fazer algumas correções ao meu texto,pois não repassei e ao lê-lo..deparei com alguns erros:desperdício/são o início/utilizar
ResponderExcluirCara Renata!
ResponderExcluirSou professora alfabetizadora há seis anos e discordo que devemos trabalhar apenas com a letra bastão. Ela não é mais correta visto que jornais e revistas, o computador e o próprio livro didático não estão 100% escritos em letra bastão (script maiúscula). Além do mais a coordenação motora deve ser trabalhada desde a Educação Infantil, o que propicia aos educandos maior capacidade de raciocínio lógico.O que vejo são professores que, embora trabalhem a bastão dizendo que a alfabetização é mais fácil, e disso não discordo, não utilizam o tempo restante ensinando os educandos a organizarem suas ideias, materiais e a escrita em seus cadernos, deixando o aluno perdido no tempo e no espaço em prol de uma nova concepção de alfabetizar (por modismo).
Um grande abraço!
Renata, adorei o seu texto, sou pedagoga trabalho há dez anos com Educação Especial e já alfabetizei alunos com a letra bastão e garanto que a transição para a letra cursiva se deu de maneira tranquila, segura e satisfatória a partir do momento que os alunos apreenderam o conceito de cada letra isoladamente, respeitando a sua sonoridade e as diferenças e semelhanças de cada uma delas, agora estou nesse processo de construção do saber com a minha filha de 5 anos, que está meio confusa por que a escola dela insiste em trabalhar a letra cursiva sem ter garantido o aprendizado de cada letra isoladamente...Uma pena, não é?Beijo e sucesso para você!
ResponderExcluirNão acho que a letra de forma é dominanate!
ResponderExcluirCara Renata, sou mãe de um portador de síndrome de tourette e posso responder com todas as letras necessárias qual a razão das professoras continuarem insistindo na letra cursiva: IGNORÂNCIA, péssima formação acadêmica, muita falta de estudo, total falta de leitura, e uma prepotência absurda!E não me falem em falta de dinheiro para comprar livros, pois as bibliotecas e sebos estão aí para isso. Só quem tem que lidar com uma situação semelhante a minha é que tem ideia real do despreparo das professoras e, o que é pior, as mais antigas são as piores! Essas que deveriam orientar, ajudar as mais novas na profissão, são as mais prepotentes, menos estudiosas e mais ignorantes. Já me deparei com professora de 45 anos de idade (o que eu considero uma idade plenamente produtiva,que deveria ser rica em experiência), que me disse: "eu leciono a 30 anos e sei o que estou fazendo!" Hahaha! Se dependesse de mim, meus filhos iriam para a escola só para brincar, pois até hoje os três (21, 9 e 6 anos) aprenderam muito mais com a família do que na escola, tanto privada como pública. Desculpem-me as excessões, pois elas são raras mas eu sei que existem. E pra não dizer que não sei sobre o que estou falando: sou engenheira mecânica e professora de Matemática, uma área em que as professoras conseguem fazer atrocidades ainda piores do que obrigar a escrever com a letra cursiva... Parabéns pela postura e pelo post!
ResponderExcluirRenata, gostei muito de suas colocações sobre a letra bastão e penso que todos os professores, alfabetizadores ou não deveriam lê-lo para que não aconteça absurdos como o que acompanhei essa semana ao ver um aluno que antes só escrevia bastão (durante Alfabetização e Ensino Fundamental) tentar escrever letra cursiva como se estivesse começando seu processo de Alfabetização. Quando o questionei sobre sua mudança no modo de escrever ele me respondeu que o professor do Ensino Médio não aceitou que ele escrevesse com letra bastão por isso estava tentando mudar. Considerei um absurdo pois e a questão genética como fica? Ele sempre escreveu com letra bastão e não se identifica com a cursiva. Penso que há muitos professores despreparados em sala e principalmente e o mais grave pessoas que não sabe respeitar a individualidade de seus alunos ( o mais grave é que o professor escreve um misto de bastão e cursiva). Considero muito pertinente suas colocações e farei com que o texto chegue até ele.
ResponderExcluirOlá ! Sou professora de Eja do ciclo básico há 9 anos e assim como com as crianças, nossos alunos adultos, principalmente os que foram alfabetizados na letra bastão, enfrentam dificuldades na transição da letra bastão pra letra cursiva. Acredito que criticar uma ou outra grafia não se faz necessário, e sim, que ambos, crianças e adultos saibam reconhecer as diferentes grafias na leitura, principalmente. Quanto a escrita, ao meu ver,cada qual tem a liberdade de se utilizar daquela que mais lhe convém.
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